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Por Ruaz Ramos
Nome: Orlando Augusto Lopes
Orlando Lopes quando recebia o 1º prémio do X Campeonato de Lisboa
Nome: Orlando Augusto Lopes
Local do Nascimento: Chamusca
Data do Nascimento: 14-11-1923
Profissão: Médico
Estado Civil: Casado
Desejo: Compilar notas de Damas
Realizado: Não conhecer inimigos
Currículo Damista:
I Campeão de Portugal Jogo Prático ( ED)
I Campeão de Portugal Produções ( ED)
Torneio Soluções Século Ilustrado
Diversos Campeonatos de Lisboa
Júri de Campeonatos Produções/Soluções
Director Técnico (ED e Estratégia Damista)
1º Presidente da Direcção da FPD
Presidente do Conselho Técnico/Arbitragem prefix = o ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:office" />
Os nossos retratos vão, um a um, constituindo a melhor colecção de arte damista.
Desta vez conseguimos adquirir um Orlando Lopes, legítimo, fotografado a cor natural. Foi um trabalho efectuado na intimidade da mesa de um café das Avenidas Novas, misturando o trago da bica com o sabor da recordação... Estamos perante um verdadeiro senhor, de relacionamento afável, culto, bom conversador, com um exemplo sempre adequado e naturalmente conciliador.
E como foi que as Damas entraram na sua vida?
No barbeiro! Exactamente. Numa barbearia da Chamusca, minha terra natal. Tinha cerca de 12 anos. Quem me ensinou os primeiros passos foi o conterrâneo António dos Santos Ai. Mas o meu mentor viria a ser o grande mestre Francisco Henriques. Como certamente sabe trata-se de um inconfundível damista de Almeirim, que tive o privilégio de conhecer e que me lançou na descoberta do Problema. Trocámos, ao longo dos anos, dezenas e dezenas de cartas. Devo-lhe muito do que sei, damisticamente falando.
E como se iniciou a sua colaboração com Sena Carneiro, na Enciclopédia Damista?
Bom, de início tínhamos em comum o gosto pelas Damas e a mesma profissão. Depois, as famílias começaram a conviver e rapidamente descobri em Sena Carneiro uma vontade intrépida. Era portador daquilo que a mim sempre me faltou: a sistematização; a norma do arquivo; o gosto pela colecção; e o prazer da comunicação com outros damistas nacionais e estrangeiros. Pela primeira vez, surgiam reunidos num só damista, um alto índice técnico, o prazer da investigação e a perseverança. Sena Carneiro é, no presente, o que Francisco Henriques representou para mim, na juventude.
Desde há muitos anos que não o temos visto em actividade. Será que podemos dizer que se arredou definitivamente da Modalidade?
De facto, por motivos profissionais e também familiares, encontro-me afastado do Jogo de Damas há cerca de há quatro anos. Mas nunca se pode dizer que encerrámos um capítulo da nossa vida. Talvez um dia eu tenha tempo para pôr em ordem uma série de apontamentos que tenho pelas gavetas...
Não sei se serei indiscreto mas, no decorrer do I Encontro Nacional da Amadora, proferiu que não voltaria a ser Director de uma Prova. Desiludido com os Damistas?
De forma nenhuma. Respeito-os a todos e nada tenho de pessoal contra ninguém; mas os tempos são outros e certas mudanças de comportamento, de valores sociais, também se reflectem na postura dos jogadores de Damas. Penso que antigamente se cultivava mais o prazer do convívio. O jogo era em si um pretexto para encontro de amigos, uma fuga ao stress. Hoje parece-me que, longe de o minorar, o jogo agrava esse stress. Não vale a pena.
Muitos são os que o consideram um verdadeiro mito. Não apenas como damista mas também como Comentarista, Júri, Director de Prova e eterno apaziguador de tensões...
Tive a preocupação de introduzir uma linguagem própria nas Damas, tentando explicar sempre o sentido de cada termo, de forma a ser entendido por todos os damistas, independentemente da sua faixa etária, do seu grau de instrução, ou da profissão. E segui escrupulosamente o princípio de dar o seu a seu dono, dentro dos elementos que dispunha.
Quais as suas preferências de entre as dezenas de Damistas com quem contactou?
Existem, quanto a mim, dois tipos de damistas: Os Jogadores Práticos, com um percurso mais ou menos efémero e dos quais não quero excluir nenhum, pois tenho um amigo em cada um deles e os Damistas Abnegados, que desempenham um papel de maior abrangência. É o caso de Jacinto Joaquim, Amadeu Martins Coelho, Mário Diniz Vaz, Luís Xavier, Eduardo Castelo e você próprio, que ficarão para a História da Modalidade.
Agradeço a referência; mas não fuja à pergunta...
É-me francamente difícil fazer uma escolha dado que, estando fora das competições, não tenho acompanhado de perto os actuais valores. Já me referi a Francisco Henriques e Sena Carneiro. Admiro, para além destes, alguns fora do tempo: Adelino Ribeiro, João Amadeu, Teixeira Marques, Fernando Martins, sei lá quantos... Outros fora do espaço: no Brasil, a figura da competência, da polémica, e da amizade, António Eduardo Igrejas. Deixo propositadamente para o fim aquele que considero o melhor jogador nato de todos os tempos: Luís António David! Um jogador de grande modéstia, que se fez a si próprio, criativo e expontâneo, que marcou uma época de ouro na Brasileira. Em determinada altura li-lhe nos olhos a tristeza ao aperceber-se que ia ser ultrapassado pelos teóricos que despontavam.
E a Federação Portuguesa de Damas? Foi o inicial Presidente da Direcção e nunca abandonou os Corpos Gerentes. Continua como Presidente do Conselho Técnico.
A Federação começou por ser uma fantasia que havia de se tornar realidade. O meu papel foi praticamente o de carregar no botão do veículo que os excelentes colaboradores que tive mantiveram na senda do sonho... Quanto ao lugar que ocupo hoje, considero-o como um privilégio que recebo em reconhecimento do passado.
Contam-se algumas histórias interessantes passadas consigo. Quer referir algumas?
Lembro-me de três! A primeira refere-se à rivalidade que, já ao tempo, existia entre Lisboa e Porto. Adelino Ribeiro, um excelente jogador, vinha com assiduidade à capital e só queria levar vitórias para o Norte. Então, sempre que o desafiava ia-me dizendo: primeiro tenho de despachar o fulano... E nunca consegui defrontá-lo, a não ser em provas oficializadas... Outra história passou-se quando um jogador desconhecido apareceu, um dia, no Café Continental, procurando-me para me defrontar. Disseram-lhe que eu deveria tardar mas que havia ali outros bons jogadores... Que não! Queria jogar comigo... Assim que cheguei contaram-me o sucedido e fui jogar com o homem. Era um jogador fraquíssimo que, após estar a perder uma dúzia de jogos, conseguiu empatar o primeiro. Nessa altura o personagem levantou-se e comentou: Pensava que jogasse mais! E retirou-se... O último dos episódios tem a ver com uma manhã de Domingo em que me dirigi à cervejaria Portugália. Deparei com dois indivíduos, já de certa idade, que se debruçavam sobre o Tabuleiro. Aproximei-me e comecei a analisar a posição. Os jogadores, esses, mantinham-se imperturbáveis, de mãos apoiadas na mesa e olhos fixados no jogo. Aguardei ansiosamente o lance enquanto os dois homens se mantinham em silêncio, compenetradamente. Não se tratava do tipo de jogadores que empurram pedras vertiginosamente. Estava entusiasmado com aquela atitude reflectiva. Foi então que, um dos damistas decide falar: Olha lá, és tu a jogar ou sou eu?!
PS: O Dr. Orlando Augusto Lopes continua a exercer medicina, no seu consultório particular, e desempenhou, até ao ano de 2002, o papel de membro do Júri dos Campeonatos Nacionais de Produções.
Neste momento é Presidente da Mesa da Assembleia Geral da Federação Portuguesa de Damas.
A entrevista do mestre OAL (e há quem defenda que foi ele o único verdadeiro mestre das Damas) tem, para além do mais, a particularidade de recordar nomes maiores do mundo damista, alguns dos quais nos deixaram há bem pouco tempo: Adelino José Ribeiro, Francisco Henriques, Sena Carneiro.
A Fotografia que apresentamos, verdadeira relíquia cedida pelo próprio, refere o momento em que OAL recebe o Prémio referente ao Título do X Campeonato de Lisboa, há precisamente, 46 anos!
Hoje, o mestre encontra-se um pouco mais ... conservado. Mas os traços fisionómicos mantêm-se e o franco sorriso continua a ser o seu bilhete de identidade.
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